quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Era dos fins

Acabei de passar pelo site do meu amigo Rodrigo Alves (www.dandonota.wordpress.com) e, lá, tem um post que cita matéria da Revista Bravo! sobre o "fim da Madonna". Eu não li a matéria -- como deixei explicado em meu comentário no site -- mas o tema me despertou para discorrer sobre esse momento por qual passa a sociedade, que aqui chamo de "Era dos fins". Parece-me, há um modismo a respeito de que tudo irá acabar, e algo novo está para começar. Ouço isso, na verdade, desde que me conheço por gente, porém a afirmativa tem sido mais apregoada nos últimos tempos, se intensificou com a internet. Pois bem. Do jornal impresso ao petróleo; da Madonna ao casamento. Tudo está prestes a acabar. Existe, sim, esse modismo. E coloco uma hipótese. Toda transgressão tem um inimigo comum; às vezes, diluído; às vezes, único; mas há algo em comum. Por exemplo, os trabalhadores revolucionários da Rússia de 1917 tinham como seu alvo os czares e tudo o que aquilo representava. Por isso, czares e czarinas, e seus afins, foram liquidados, tornaram-se alvos. Cá, de volta ao Século XXI, temos uma "era de futuro", impregnado pelo desenvolvimento da tecnologia. E qual é o inimigo do futuro? Sim, o passado. Então, há de se liquidar tudo o que representa esse passado em detrimento da tecnologia. Não defendo, evidente, que coisas obsoletas sejam mantidas funcionando apenas por representarem alguma tradição. Mas, de certo, se há o ocaso do passado, e tudo o que vem de lá, existe também um acaso do futuro. Destruir tudo apenas por conveniência de algo que está por vir é o equivalente a não construir nada porque fere o que já foi.

EU ODEIO... zé sandalha que dança chorinho como se estivesse dançando forró na Noite da Seresta (a sugestão é o meu cunhado, Alemão)


"Like a virgin" (Madonna)

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Obama, Osama e Alabama

Tenho acompanhado, com certo afinco, a eleição dos Estados Unidos. Saber se a política republicana irá continuar, ou se há esperança para uma renovação -- e que renovação! -- democrata, são possibilidades que me levam a jogar minha atenção ao que acontece no Norte do Continente. Mas de tudo o que li, vi e ouvi a respeito do sufrágio norte-americano, o melhor veio na edição de quarta-feira, 29, do jornal O Estado de S. Paulo. Artigo assinado por Rosa Brooks, especializada em Direito, sob o título "O mito da verdadeira América", é simplesmente magnifíco. Ela descontrói o principal argumento da campanha repulicana de que há um Estados Unidos mais legítimo que outro. Ou seja, o americano que mora nas pequenas cidades, crente em Deus, patriota e branco representa o que "a América tem de melhor". Para rebater essa idéia, que beira a limpeza étnica, Rosa coloca que 80% do povo estadunidense mora em metrópoles. Além disso, ela lembra que 1/3 não é branco, outros quase 66% acreditam que cobrar melhorias do governo também é um ato patriota (e não só usar broches com a bandeira americana) e embora a grande maioria seja cristã, cerca de 70% entende que é possível chegar à 'revelação' por outras religiões. Enfim, existe um novo EUA emergindo e os republicanos estão perdendo pé da situação. É evidente que esse país fora dos padrões do Partido Republicano precisa sair no dia 4 de novembro para votar em Obama. Já disse, e repito: se fosse americano, votaria em Obama. Não por ele ser negro, evidente. Mas por representar um novo país.

EU ODEIO... criança berrando em supermercado (e o pai que não dá um jeito na coisa)


"A cada ano que passa, os EUA 'autênticos' do mito republicano assemelham-se cada vez menos aos EUA da maior parte da população do país" (Rosa Brooks, só para resumir o tratado)

domingo, 26 de outubro de 2008

Capa, copo, culpa...

As bebidas explicam a civilização. Dão a noção de como, porque e quando a sociedade evoluiu -- entendam evoluir no sentido puro e simples da palavra, por favor -- e demarcam situações imprescindíveis à História. Essa visão não é minha, na verdade. O jornalista inglês Tom Standage escreveu o livro 'A história do mundo em seis copos', onde ele coloca essa teoria em prática: cerveja explica a Mesopotâmia e o início da civilização; o vinho, o Império Romano e a Democracia Grega; os destilados, o período das grandes navegações e as conquistas além do Velho Continente; o café, a minha preferida, quebrou o período de embriaguez no mundo e trouxe o Iluminismo; o chá traz à tona as Companhia das Índias Orientais e o domínio inglês; por fim, a Coca-Cola demarca o desenvolvimentismo e o Império Americano. Bebidas, enfim, são divisores de água -- entendam sem qualquer metáfora, por favor. Importantes a ponto de serem elas, em alguns momentos, vetores do desenvolvimento. Beber é celebrar a vida, já disse alguém. Dia desses, fiquei intrigado por serem os copos de requeijão os mais utilizados na hora de beber algo em casa. Não que sua simplicidade e praticidade não sejam fundamentis -- reutilizá-los é algo nobre. Mas existe uma imensa diferença quando um copo tem em seu formato força suficiente para alçar a condição de qualquer bebida, alcoólica ou não. Ao usar uma xícara robusta ou invés de um copo de requijão para tomar meu café, por exemplo, sinto que há um respeito no trato de produto fundamental. Sinto que quando se respeita a História com um recipiente a altura de seu preenchimento há uma simpatia mútua; e cada gole torna-se mais que mera saciação de um desejo fugaz; mas torna-se bebericadas na jornada humana. Entendam isso como quiserem.

EU ODEIO... qualquer coisa que tenha o menor vestígio de canela.


"Se você quer algo urgente e bem feito, encomende-o a quem não tem tempo". (José Carlos Machado, autor de Casos, Lenhas e Lorotas de Jequitinhonha. A frase é boa, mas o autor, não conheço; encontrei num site por aí)

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Dead Kennedys!

A morte de Kennedy, não apenas do John, mas também do Robert, é, talvez, um dos acontecimentos mais significativos dos anos 1960. Ela envolve tudo, ou quase tudo, que se passava no mundo naquele período. Não precisa ser eu, um mero provinciano, a discorrer sobre ela para que um bom entendedor, aquele mesmo, da meia palavra, possa entender. Há literatura e filmografia suficiente para dar conta. Um deles, no caso filme, é "JFK", título em inglês, que no Brasil recebeu o subtítulo "A pergunta que não quer calar", algo assim -- acho tão inútil esses tipos de subtítulo --, produzido nos idos 1991, pelo diretor Oliver Stone, tendo no elenco figurões, entre outros, do tipo a dupla Kevin Costner e Bacon, e Tomy Lee Jones. É simplesmente arrebatador. O filme trata de uma teoria de conspiração, com participação da CIA e FBI, para matar o presidente John Kennedy, em 1963, e posteriormente o seu irmão, em 1968. Tudo porque os irmãos Kennedy atentavam contra o interesse, principalmente da indústria bélica americana, ao se colocarem, e colocarem em seus planos de governo, o fim da Guerra do Vietnã. O filme é obrigatório para quem quer entender o período. Tem de tudo: bêbados, comunistas, fascistas, comunistas disfarcados; Cuba, Fidel Castro, Kruchev, definitivamente tudo o que a geopolítica dos anos 1960 produziu de melhor e de pior. E dentro de tudo isso, uma evidência forte: a morte John Kennedy foi um Golpe de Estado, e um raciocínio que coloca a América de ponta-cabeça: se um primeiro-ministro soviético tivesse sido morto, sob a mínima suspeita, todos estaríamos dizendo que ele foi vítima de um grande complô do partido comunista, mas como no caso foi um presidente americano, uma terra que fala de democracia e liberdade, pensamos que a mente (e mira) brilhante de um mero ex-comunista, como Lee Harvey Oswald, seria suficiente para matar o presidente. Depois dessa, eu parei: cortei um limão ao meio, fiz da metade três fatias, coloquei num copo baixo com três ou quatro pedras de gelo (não lembro ao certo), adicionei rum e Coca-Cola. Depois dessa, quero que o mundo acabe em Cuba Livre.

EU ODEIO... jornalista com registro e filiado na Fenaj.


"Drug Me" (Dead Kennedys)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O papa é pop, porra (digo, pô)

Vi uma frase de Victor Hugo em que dizia algo em torno da liberdade. Na filosofia, uma coisa; no direito, outra; na política, outra. Enfim, não lembro de cabeça -- aliás, no máximo, decoro letras de músicas, quando decoro melodias; poesias e frases, sou péssimo. Mas fato é que, liberdade, em qualquer esfera sempre será nobre. Liberdade, afinal, é tudo o que o ser humano busca desde que entendeu que era preciso ter liberdade para fazer as coisas. Liberdade para ir, vir, pensar, amar, criar, vender, comprar... ah, liberdade, abre as asas sobre nós! Vivemos, pois, num mundo que procura a liberdade nos picos dos montes, nos mais profundos oceanos; dentro de nós mesmo e em qualquer outra pieguice que se valha. Liberdade, ao invés do que se pensa, não é expansão, é limite. Ela sempre começa estreita e depois vai se alargando; não o contrário. Porque ela simplesmente não existe se não há parâmetros sobre prisão; confabulando com Euclides da Cunha -- perdoem-me os deuses da gramática -- o liberto é, antes de tudo, um ex-prisioneiro. Daí, vem o caso de que para ser um liberto minimamente qualificado é preciso ter passado por uma prisão também minimamente qualificada; sem exorcismos, sem que a violência detrás das grades nos deixe rebeldes ou mórbidos. Prisão violenta vira trauma. Mas a liberdade, pura e simplesmente, virou bandeira. Bandeira pop, inclusive. Dos clipes em que os cabelos soltos, libertos, movem-se aos ventos, as danças movem os corpos juvenis e as cinturas ninfas. A liberdade vem embrulhada em discos (em downloads), roupas rasgadas, cores vibrantes, correntes, piercings, atitudes infantis. Ela vem unânime, sem nada que a conteste; sob as vestes do we don't need no education. E quando ela chega, a falta de referência da prisão cega; e a liberdade, acima de tudo e todos, é a única vetora das emoções. Daí, que todos libertos, sem prisões para quebrar; ficam presos novamente. Presos na liberdade.

EU ODEIO... palestras de motivação.

"Quem não é capaz de ser pobre, não é capaz de ser livre." (Victor Hugo. Na verdade, tentei encontrar a frase que esqueci; mas essa aí foi demais, adorei, me sinto cada vez mais livre)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Da Vinci Deu No Que Deu

De uma semana para cá tive um sopetão seguido de uma vontade. Nada de mais. Apenas ler o 'tar' O Código Da Vinci, do romancista Dan Brown. Havia assistido o filme, e não gostei. E vou falar: não gostei mais pela apatia -- e pelo cabelo -- do Tom Hanks, e o enjôo da cara da Audrey Tautou, que não conseguiu deixar de ser Amellie Poullain para virar uma merovingía, descendente de Jesus e Maria Madalena. Fora isso, acompanhei meio reticente toda a polêmica sobre o livro e o segredo que ele trazia. Pois bem. Li. Num batidão, sem me ligar muito à falta de estilo do autor. O que achei, para minha surpresa, foi uma história policial muito bem enveredada, cheia de reviravoltas e uns segredos que atingem a Igreja Católica. Mas ao contrário do que ficou do livro na opinião pública, de ele ser um atentado ao Cristianismo, vi totalmente diferente. Ao não ir mais à fundo do que suposições -- algumas bem baratas -- sobre a relação de Jesus e Maria Madalena, o livro se reserva o direito de ser extremamente religioso, desafiando o que a igreja tem de mais nobre: a fé de seus fiéis. E, convenhamos, teorias conspiratórias não são suficientes para trucidar fés alheias. É capaz de Jesus descer e dizer que tudo foi uma mentira que ainda vai sobrar um bom punhado de gente que continuará a ser cristão. Não entendi o estardalhaço sobre O Código Da Vinci. Se cada fábula escrita e vendida mundo afora causar esses tipos de estragos, fico pensando nos vendedores de maçã quando do lançamento de Branca de Neve e Os Sete Anões. Enfim. Dá Vinci Deu No Que Deu. Nada de mais. Como a minha leitura. Que foram apenas momentos despretensiosos, divertidos e imaginando -- sem futuro -- o fim da Igreja Católica, quiçá do Cristianismo.

Até!


"Está em qualquer profecia que o mundo se acaba um dia" (Raul Seixas, em A Profecia)

terça-feira, 26 de agosto de 2008

MCC: tradição, família e punk rock

Uma vez, eu e meu irmão estávamos escutando o disco ...And Out Come The Wolves, da banda Rancid. Quem conhece sabe a importância deste disco no punk rock; quem não conhece, deve se lembrar de Time Bomb ou Ruby Soho, músicas que ficaram por semanas nas paradas da MTV e de outras instituições do mainstream. A certa altura do disco, o Evaldo me disse: "Cara, eu só vou ficar feliz com a nossa banda quando eu sentir esse mesmo prazer que sinto ao escutar essas músicas". Nunca esqueço dessa frase, ainda mais com o jeito simplório e sincero do meu irmão. O tempo passou. E entre tropeços, atropelos e trapalhadas, estamos -- eu, o Evaldo e o Giuliano --, em 2008, comemorando, mesmo que discretamente e sem qualquer evento especial, os 10 anos da nossa banda. Mazzaropi Contra o Crime é um ente querido entre nós. MCC, para mim, representa tudo o que há de mais belo e sólido nas relações entre as pessoas. Parece exagero, mas não é. Estar ao lado do meu irmão e do Giuliano é sempre muito significativo; afinal, tudo acaba em música, amizade e festa. Mas é engraçado. Nós nunca soubemos trabalhar, como se diz, comercialmente a banda; muitos de nossos amigos dizem que MCC têm "potencial", e talvez eles tenham razão, mas nós nunca soubemos ter sensibilidade para entender o quão fundo é isso. De qualquer forma, MCC conseguiu o que meu irmão preconizou tempos atrás, ao ouvir o disco do Rancid. O prazer que tenho em ouvir as minhas músicas é tão bom quanto escutar as bandas que gosto. Nós não chegamos aonde bandas aspirantes gostam de chegar, como 'sucesso', 'fama' e 'dinheiro' -- aliás, tudo muito suspeito --; mas nós temos o que talvez muitas bandas nunca conseguirão alcançar. Evaldo e Giuliano, obrigado pela parceria.


EU ODEIO... banda punk que nunca tem dinheiro para voltar para casa (e vende fitinha K7 mal gravada por três reais)



"Um bêbado perde a família; um viciado perde a razão; o padre na pedofilia e o pastor em uma mansão; um menor desocupado; uma maior já delinquente; um país livre de guerras, mas armado até os dentes; e tudo o que tem por aqui vale menos que um dólar" (Trecho da música 'Tudo que tem por aqui vale menos que um dólar', de autoria de Mazzaropi Contra o Crime)

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

'Ateu, Graças a Deus'

Passei as duas últimas horas imerso na edição de agosto da revista Rolling Stone (versão brasileira), que tem o escritor, mago, superclasse, imortal e babaca, Paulo Coelho, na capa. Eu acrescentei o babaca por pura chatice, mas alguém como ele, que alcança o que ele alcançou, o próximo passo é ter a crença dos fanáticos e o descrédito dos céticos. Como sou cético, meus amigos sabem disso, acho Paulo Coelho um babaca. Mas o perfil sobre PC (como o chamarei daqui para frente, se o chamar) é intrigante, e me levou a questionar a minha fé. Digo, a ausência dela. Por um momento, inspirado nesta madrugada fria, ao som de Amy Winehouse, me deti a pensar a ausência de fé que me pegou desde os 19 anos, portanto há cerca de oito.

Já fui do tipo que falava de ateísmo para provocar crentes (e isso é tão prazeroso, acreditem), mas a fase passa e hoje procuro me esconder. Falo o mínimo sobre fé para quem não conheço. Os meus amigos (e a Flávia), ao contrário, ainda precisam aguentar meus ataques anti-deuses. Mas de repente me peguei a pensar em o que se espera da vida um ateu, alguém sem fé e que sente a morte como um sono profundo, uma varredura da existência de um corpo frágil, corrupto e ávido por prazer. Não há causa em ser ateu. Diferente dos vegetarianos, que buscam o equilíbrio ambiental da vida, a 'gente da minha gente' acaba se curvando ao ostracismo.

O que resta é essa vida no sentido estreito do materialismo; do tempo-presente; do imediato; a arte como criadora de rituais; e o cotidiano como poesia. E a pressa. A certeza que tenho menos de 80 anos de vida -- isso se a genética for boa comigo, a ciência me ajudar e eu não bater o carro. Por isso, não há glamour em ser ateu. O que existe é apenas esse fio de certeza, de que todos ainda buscam uma corda para agarrar, enquanto eu já me soltei e estou flutuando... rumo ao desconhecido, sozinho e sem medo de me esborrachar no chão.


EU ODEIO... berimbau na mão de maconheiro.


"Me dê um corpo vivo para eu encher a minha pança" (Raul Seixas em 'Rock do Diabo'. Leiam devagar, com atenção e mais de uma vez; e sinta-se com a boca ensanguentada)

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Odiário - Missão Chile, A Volta ao Brasil (e dos Acentos)

Eu sou um fanfarrão. Um muleque quase. Não mereço esse uniforme que uso. Esse meu Odiário não respeitou nada, nem dias, nem cronologias de viagem, nada. Só respeitou a coisa mais importante do mundo, para mim, obviamente, a minha vontade. Por isso, de 10 dias de viagem, só foram três edições em terras estrangeiras e essa, mais uma e a última, escrita em terras brasileiras. Mas enfim. Como diria alguém, enfim, não é o fim, mas o começo. Ou... recomeço. Hoje, nesta segunda-feira moribunda que teve como principal notícia a internação obscura da Amy Winehouse, voltei ao meu trabalho surrado, suado, sagrado... safado!

Confesso que ainda não consegui digerir totalmente a viagem ao Chile. Toda vez que viajo, fico alguns dias fora, parece que voltei e as coisas mudaram, mas é óbvio que mudou foi a minha percepção. Não sei se foi o tempinho longe, 10 dias apenas, ou a distância, algo em torno de 3.500 km, mas é fato que, por enquanto, consigo ver as mesmas coisas de outras formas, com outro espírito, com outra inspiração. Mas conhecer Santiago e o Deserto do Atacama, embora não tenha sido uma aventura lá muito impossível, tudo isso veio num momento especial para mim, um momento de crescimento e maturidade.

Quando se está no deserto, ou mesmo em lugares em que a cidade não tomou todos os cantos, é possível ver o início da civilização na palma da mão, tocá-la, senti-la, cheira-la, degustar as suas dificuldades, perceber que a distância que estabelecemos com a natureza, não a fauna ou a flora, mas a nossa própria natureza, nos faz perder o pé da capacidade de nos elevarmos diante das dificuldades e diantes dos nossos desejos; das nossas vontades.

Uma viagem sempre revigora as baterias. Sempre nos dá fôlego para respirar mais forte e conseguir descer ainda mais no Oceano, dar um mergulho ainda mais intenso. Sinto isso nesse momento. E tudo o que aconteceu em 10 dias será digerido em meses, talvez anos. Por enquanto, só fico com essa vontade, com esse tesão, que me deixa elétrico, pronto para mais uma.

Até!!!


Erich




"Fomos num pico de neve, na praia ao lado do Pacífico e, agora, no deserto. Puts, é a natureza ao extremo" (Flávia Dias de Aguiar, numa de suas filosofadas)

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Odiário - Missao Chile, Com Alguns Acentos e No Deserto

Antes de mais nada, cometi uma gafe no último relato. A hora, no Brasil, está a frente daqui. Entao, se sao 14h30 no Chile, no Brasil deve ser em torno de 15h30 / 16h. Posto isso. Vamos "adelante". Depois de uma viagem tranquila, com escala na cidade de Antofagasta, onde tem uma base militar da aeronáutica chilena, o aviao chegou a Calama, de onde pegamos uma van e viemos a San Pedro de Atacama. E tudo o que já ouvi sobre o Deserto do Atacama é verdade. Aqui é uma miragem, parece que estamos em outro planeta; a cidade é bem pequena, uns falam em 4 mil habitantes, outros em 2 mil habitantes, mas, enfim, nao importa muito. Voltada totalmente ao turismo, só há hotéis, albergues, restaurantes, mercearias, cafés, e tudo mais que se relaciona com essa indústria. Um lugar muito aprazível, gostoso.

Chegamos a noite, nao vimos muita coisa. O breu aqui é singular. A noite, a luz mais forte é da lua. Quando vi isso, me lembrei das críticas a Las Vegas, cidade que é o principal ponto luminoso do deserto nos EUA. Depois de uma noite nao muito bem dormida, já que o frio é impressionante, acordamos cedo, por volta das 7h30, e fomos tomar café. Em seguida, seguimos passear pelo centro de San Pedro. Ruas de terra batida e muito pó. Mas tudo muito acessível. Visitamos a igreja da cidade, onde um senhor me chamou a atencao e pediu que tirasse o boné. Acontece. Fomos no museu, anexo a uma Faculdade de Arqueologia. Bem organizado, conta o período desde a formacao dos povos primitivos que habitavam essa regiao, há 10 mil anos, até a invasao Inca e, em seguida, a influencia espanhola, e sua colonizacao.

A tarde, fomos visitar o tao falado Vale da Lua. A excursao também passou pelo Vale da Morte, onde existem diversas versoes para o seu nome: (1) porque lá nao tem condicoes de desenvolver vida, nem animal ou vegetal; (2) porque um pastor de lhamas foi passar pelo local e nunca mais foi encontrado; e, por último, (3) porque Gustave Le Paige, médico belga que viveu aqui nos anos 1960 -- inclusive no museu tem uma sessao dedicada a ele -- nao conseguia falar em espanhol Marte, já que o local tem solo parecido com o marciano, e falava Muerte, daí o nome. Bom, eu fico com a primeira opcao, achei a mais plausível. No local, nao tem um raminho de nada.

O passeio pelo Vale da Lua acabou com uma "tungada" da lua. O guia, Max, esperava que ela fosse aparecer e fazer espetáculo considerado único. Mas ela demorou. Entao, nao teve espetáculo. Seria um gran finale, talvez, mas o enredo todo nao deixa a desejar. San Pedro de Atacama confirma todas as famas que tem.

Até!

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Odiário - Missao Chile, Com Alguns Acentos e Quatro Dias Acumulados

Bom, como é meu Pensamento D´Odia, o meu Odiário nao seria diferente. E dificilmente honraria seu nome. Escrevi o primeiro no primeiro dia de viagem, e o segundo só "acontece" no quinto dia. Entao, sao quatro acumulados. Muita coisa aconteceu neste tempo todo, e seria muito tediante explicar tim-tim por tim-tim. Por isso, apenas algumas pinceladas.

Santiago está anos-luz a frente de Sao Paulo, ou mesmo de Piracicaba, em termos de transporte coletivo. Aqui, vai a todo lugar de metro e onibus, e também a pé. É uma cidade com um planejamento bem funcional, agrada cidadaos e turistas, gregos e troianos, argentinos e brasileiros. Uma coisa que nao consegui distinguir com clareza é se o chileno é simpático. A cada pessoa educada, voce tem outra mal educada. Parece uma sequencia matematicamente definida para que voce nao ache que todos os chilenos sao bons, ou ruins.

Fomos a El Colorado, um estacao de esqui nas Cordilheiras dos Andes. Linda! Magnifíca! E só me deu um problema: como vou economizar para vir aqui pelo menos uma vez ao ano para esquiar. A Flávia está com a orelha ardendo, tanto que falo sobre o meu desempenho na neve. Fiz o downhill no segundo nível, é ladeira abaixo a uma velocidade de quase 50km/h. Peguei o jeito rapidinho, heranca dos meus tempos de patinador, e nao fiz feio nao. Para voces terem uma idéia, tres dos sete brasileiros que estavam na excursao "mijaram na arvrinha", nao encararam. Nao é muito fácil. Mas quando se aprende é uma experiencia maravilhosa! Estou até agora em extase!

Viña Del Mar e Valparaíso. Bom, a primeira cidade é linda, muita praia, um calcadao gostoso para se andar, conversar e também fazer exercicios. Eles tem espécies de academias ao livre, onde os equipamentos estao dispostos para que qualquer um faca um pouco de exercício, muito interessante. Almocamos num restaurante em Recaña, praia mais cobicada de Viña. Sem palavras, o tal peixe renieta, de que tanto falam, deixa o bacalhau a léguas de distancia. Na cidade vizinha, Valparaíso, pouca coisa, uma andada no shopping, tres fotos no entrocamento das avenidas Brasil e Argentina, mais nada. Voltamos para o tren, para Viña, rodoviária e hostel. Na chegada, um probleminha. Nada grave (para mim). Muito grave (para a Flávia).

Como todos sabem, em albergue se divide quartos, o nosso sao em seis pessoas. Estávamos, belos e adormecidos, em duas camas ao lado esquerdo de quem entra. Mas hoje, sem mais nem menos, colocaram um casal. Detalhe: dois tipinhos dos mais chatos possíveis e, por alguns minutos, eu e a Flávia ficamos sem camas. Agora, estamos nas camas ao lado direito. Para mim, como disse, já tudo resolvido. Como disse (desculpe-me a repeticao), para mim. A Flávia está planejando como vai atrapalhar a dita cuja quando acordar pela manha. Coitada. Da dita cuja...

É isso, hoje alguns acentos voltaram e o teclado é bem melhor que o de antes. Acredito que quando escrever novamente estarei no deserto. Amanha, o voo sai as 14h35 (horário local), no Brasil deve ser em torno das 13h. E chegarei por volta das 17h20 em Calama, e 19 horas em San Pedro de Atacama.

Até lá!!

sábado, 12 de julho de 2008

"Odiario" - Missao Chile e Sem Acento

Inauguro um novo suplemento do meu blog Pensamento d´Odia. E o "Odiario" - Missao Chile e Sem Acento. Explico: d´Odia sempre foi, sempre sera, a marca do meu pensamento odiatico. Eu deixo o amor de lado para odiar. Um suplemento nesta logica nao poderia ser outro, se nao um "Odiario". Um diario de odio, onde o amor nao entra nem como nota de rodape. Bom, o subtitulo, Missao Chile, pelo obvio lulante, estou no Chile, desde hoje, ate dia 23 deste julho friorento e chuvoso, aqui principalmente. O apendice, Sem Acento, e apenas para que eu possa me dar o direito de nao colocar acento, ja que esse teclado hispanico e confuso, e... hispanico! Dito isso, ca estou, numa lan house, em Santiago, do Chile, ao meu lado direito esta a Cordilheira dos Andes, ao meu lado esquerdo, a Iglesia de Santo Antonio, tendo a Plaza de Armas como palco e, em minha frente, muito provavelmente, pelo mapa que consultei, esta o Mercado Municipal, onde, mais hoje ou amanha, desgustarei pescado, mariscos e outras cositas mas.

Santiago e uma cidade mais latina do que americana. Menos (bem menos, alias) europeia que Buenos Aires, onde ja estive, e que teve a capacidade de manter um pouco da cultura indigena, principalmente nas feicoes de seus habitantes. Os espanhois, definitivamente, nao foram tao eficazes em eliminar indigenas como os nosso portugueses.

A viagem. Noite em claro, uma conversa longa, duradoura e cheia de bobagens com o meu pai e com a Flavia. Um cafe preto com pao de queijo no Graal da Bandeirantes, um suco de laranja num quiosque do Aeroporto e omelete com presunto, cereais com leite, frutas frescas da epoca, e mais cafe preto na classe executiva da Lan Chile -- bem aventuradas as milhagens do cartao de credito! Na chegada, um pepinico. Errei no preenchimento da "tarjeta de imigracion". Nada de mais. Só - deu acento! - uma correria basica e nada mais. Correria menos basica para acertar a passagem para Calama, no dia 17, de onde iremos (eu e a Flavia) para San Pedro de Atacama e ver o deserto. No albergue, limpo, confortavel e que ja tem um churrasco marcado para hoje a noite, as 20h, por 4.000 pesos chilenos (cada), coisa de 11 reais, para comer a vontade. Meu espirito italiano, dos Gardenais da minha vo Cida e dos Lacrimanti da minha vo Marina, esta afiado. Enfim. Tudo acertado.

Na rua. Pela Monjitas, entramos na rua Mercedez, e fomos pela avenida Santo Antonio, entramos num calcadao. E fomos tomar cafe, mais um pretinho basico, mas com leite, no Cafe Haiti. Um detalhe: existem muitos cafes aqui, e todos eles oferecem cafe com mulheres de pouca roupa que podem deixar voce mais acordado que cafeina. Logico, a Flavia nao perdeu tempo: "Ainda bem que vim". Ela foi sarcastica. Enfim, tudo normal, se nao fosse por "duas estudantes", uma de psicologia e outra de medicina, que nos abordaram para oferecer uma poesia, de nome Olvido - que se pasa? - e pedir gorjeta. Dei, a contragosto. Mas dei pouco, nada mais que cinco reais, que foram divididos em duas. Nada muito acima do que o Geleia pediria para olhar o carro na Rua do Porto.

Pronto. E isso. "Odiario" volta amanha, ou nao volta mais. Estou pensando em montar uma cabana ao lado dos Andes. Quem sabe.

Inte!

Erich

sábado, 21 de junho de 2008

Além dos Nets

A Revista Piauí, lançada há pouco menos de dois anos, teria tudo para dar errado. Textos longos, poucas imagens (a maioria em forma de ensaio), matérias analíticas, histórias, poesias e, pior, leva o nome de um estado nordestino; tudo o que, desde principalmente do boom da internet, em meados dos anos 1990, e com intensificação nos anos 2000, se costumou chamar de 'errado' na comunicação. A regra atual é a da velocidade; informações curtas, ligeiras, "o leitor tem pressa", não pode 'perder tempo' com artigos compridos. Mas a Piauí se preserva. Melhor, aumenta; a cada edição vê se novos anunciantes e a tiragem é ampliada, hoje anunciada em 62.500 exemplares. A contradição a esses 'mantras-pós-web' é extramemente saudável. Primeiro, mostra que eles, por serem eufóricos demais, não dão conta da complexidade do mercado editorial. Segundo, confirma teses mais sérias de que a transformação desencadeada pela internet não está restrita ao seu papel como mídia, mas também à sua influência no comportamento, o que exigiu um rearranjo de todo o conceito na produção de conteúdo. E em terceiro, e na minha opinião o mais importante, coloca um ponto de equilíbrio nessa mania de colocar data para o fim do uso do papel como mídia. A Piauí ajuda a ver além dos Nets.

EU ODEIO... esse pessoal que sai da faculdade achando que qualquer sitezinho pode virar rios de dinheiro e começam a lhe falar conceitos como se você tivesse nascido ontem.


"(...) resolveu juntar numa mesma mesa a macarronada com o sashimi" (Romualdo Cruz Filho, em matéria sobre a família Kawai, publicada em A Tribuna Piracicabana, no sábado, 21)

sexta-feira, 20 de junho de 2008

É difereeente...

Eu e a Flávia saímos nesta sexta-feira 20, com um propósito: fazer um programa difereeente -- esses dois 'es' é para ser dito com as sobrancelhas em posição serena. Na verdade, a gente estava com vontade de jantar, mas em um lugar difereeente. Não poderia ser Habib's, vira e mexe estamos lá; não poderia ser Toca da Coruja, vira e mexe estamos lá; não poderia ser Claudinho's, vira e mexe estamos lá; e muito menos o Bar do João, toda semana estamos lá. Não foi fácil. Saímos pela rua Tiradentes, viramos na Voluntários e passamos em frente ao Bar Alferes, onde a Flávia nunca foi, mas odeia (ela tem dessas, é o gênio forte). Entramos em seguida na avenida Armando Salles, em busca do McDonald's -- o que não seria lá muito difereeente --, mas a nossa sorte é que estava fechado. Subimos a avenida Independência, sugeri a Confraria da Turca, onde agora eles aceitam cartões, mas a Flávia ficou brava com o 'olhador' de carros; mal pensamos em parar o carro e ele já veio: posso olhar? Fomos embora. Fizemos o retorno pela Independência, paramos na Pizzaria Forlen, mas estava fechada (ou, ao menos, parecia), nem arriscamos; viramos à esquerda na rotatória entre a avenida Luciano Guidotti e Independência, onde há nove semáforos, e a única coisa que pensamos foi jogar o carro no Restaurante Escuna -- ô lugar feio e de mal gosto --, mas, óbvio, não fizemos, pensamos num hot dog, ao lado, ainda na Independência. Lotado. A saga continuou. Entramos na Armando Salles e subi ali na Frias Netto, onde há uma rampinha, literalmente, para pegar a avenida Brasil e seguir na avenida Carlos Botelho. Na popular B.O., a polícia nos parou. Foi difereeente... olhou a minha carteira de motorista, o documento do carro e, em sua habitual simpatia, o PM liberou. Voltamos na Independência, passamos na Toco de Lenha (fechada), quando avistamos um posto Ypiranga, com uma loja AM PM. A salvação? Mais ou menos, mas para quem queria algo 'difereeente', até valeu a pena. Eu comi desses lanches rápidos que se esquenta no microondas; a Flávia, uma coxinha. Eu, uma coca-cola. Ela, um kuat. Eu ganhei um copo com a inscrição Rock'n Rio - Eu fui. Ela comprou outro kuat, dessa vez de 600ml, e ganhou uma corrente. Pegamos a Independência, fomos embora. Comemos mal, mas demos risada. E no final... não foi nada difereeente.

EU ODEIO... essa mania da rapaziada tem de bagunçar o cabelo com gel; fico imaginando o infeliz na frente do espelho 'ajeitando' a cabeleira, deve ser o cão chupando manga.


"Dá pra ela, moço, não seja pão-duro" (O pior foi a moça do caixa da loja AM PM me dizendo para dar o meu copo para a Flávia... dei, né, fazer o quê!?)

quarta-feira, 18 de junho de 2008

'Tropa de Elite da Ditadura'

Não faz muito tempo comentei com um amigo: "O cinema brasileiro ainda precisa fazer o Tropa de Elite da Ditadura Militar". Quis dizer que assim como o filme de José Padilha "culpou" a burguesia, e principalmente os pequenos burgueses, pelo crescimento do tráfico de drogas, também seria necessário mostrar que boa parte da luta contra a Ditadura Militar não tinha, em sua origem, uma batalha democrática, mas a busca por uma Ditadura do Proletariado. O que, noves fora, é a mesma coisa. O curioso é que ontem recebi um artigo do Betão (meu amigo e dono do blog Eco Subversivo, http://betobiologia.blogspot.com/) que contraria essa minha tese. Aliás, ela surgiu num momento etílico -- é preciso, portanto, respeitar algumas bobagens. Mas neste artigo, um historiador diz que não há como "culpar" os esquerdistas pelo método de combate à Ditadura Militar (ou seja, a luta armada) já que do "outro lado" havia um estado armado para impor uma ideologia. Argumento forte, sem dúvida, mas que não me convence. Não sou do tipo que vê a Ditadura Militar como mero devaneio direitista brasileiro. Ela fez parte de uma conjuntura mundial, no contexto da Guerra Fria e, se os EUA a financiaram, a União Soviética também manteve milícias nas fileiras do Partido Comunista. O assunto dá 'pano pra manga'. Fato é que ainda falta o Tropa da Elite da Ditadura Militar. O filme Pra Frente Brasil (1983) é ainda o que permeia o imaginário coletivo sobre esse momento do País. O diagnóstico de que o futebol serviu para encobrir os demandos ditatoriais foi importante na época, mas essa visão precisa ser aprimorada. De qualquer forma, o meu papo de bêbado deu lá algum resultado.

EU ODEIO... o ufanismo do Galvão Bueno. Aliás, e de qualquer ufanista.


"A virtude não é tão fácil como o vício, mas pode ser ajudada" (José Saramago, em História do Cerco de Lisboa)

terça-feira, 17 de junho de 2008

Ao Alceu Righetto...

Meus amigos, caros internautas que me acompanham neste blog. Hoje é um dia triste. Faleceu o grande Alceu Righetto. Homem simples, mas de um humor refinado e cheio de energia. Escrevi um artigo em homenagem a ele para A Tribuna Piracicabana, que coloco na íntegra abaixo.

***

É difícil escrever sobre alguém que acaba de falecer, alguém amigo, uma das poucas pessoas às quais eu posso chamar de professor. E não é ‘pieguice pós-morte’. Se fosse isso seria o maior desgosto que o Alceu Marozzi Righetto teria de mim. Mas não. Ele soube, morreu sabendo, que sempre o admirei. Por ele ser, acima de todas as coisas, legítimo, verdadeiro, por não ter medo de colocar o que pensa, mesmo que isso lhe valha o prestígio ou mesmo o elogio barato. Desses elogios que se fazem comumente em colunas socais, às quais ele, com razão, tanto detestava.

Alceu Righetto manteve até a semana passada sua coluna em A Tribuna. Era seu espaço democrático e dedicado a quem está cansado de ler a mesma coisa de sempre na imprensa, fruto dos moralismos baratos que criam ‘status’ e condutas ‘politicamente corretas’. Em poucas linhas, em alguns tópicos, ele sempre foi sagaz, voraz, tinha a sensibilidade de um poeta urbano, com a influência do hai cais feito por Paulo Leminski ou Millôr Fernandes. Seus tópicos eram como tapas que se dá na nunca para informar, de forma sutil, que a ‘ignorância lhe sobe a cabeça’ – como diria Millôr – sem que você perceba e tome conta de si mesmo.

E foi nessa turma, além de Millôr, Jaguar, Ziraldo e Cia., que Alceu Righetto se inspirou para realizar o Salão Internacional de Humor. Esse, sim, o seu ‘filho’, independente o que dizem as histórias bizzaras de segundas versões de quinta categoria. Alceu trouxe o ideário daquela época para cá, que permeou o humor e a política brasileira, que influenciou gerações e que, graças a Alceu, se pôde ter mais que ‘um respiro de liberdade’, mas se pôde dar uma boa gargalhada. Daquelas de fazer o jornalismo marrom enfiar seu lirismo como um rabo entre as pernas.

Há poucos meses, num sábado à tarde, desses meios nublados, como o frio que chegou mais cedo esse ano – esse mesmo frio responsável pela pneumonia que levou Alceu antes que o combinado –, o entrevistei em sua casa, na rua XV de Novembro. Um lugar simples, rodeado de livros, de idéias, de histórias, de lições; um espaço que exala o conforto de uma conversa que durou três horas como se passasse num minuto. O Alceu estava disposto e com seu jeito agressivo de sempre. E esse é o Alceu que vai permanecer para mim, o Alceu que chegava na redação e me xingava com espírito aberto, para despertar a minha consciência e contribuir para que saísse da letargia do dia-a-dia cansativo de um jornal diário. Mas que era companheiro em momentos difíceis, como em 2003, quando essa empresa passou por graves problemas financeiros. Apesar das ‘propostas irrecusáveis’, ele não abandonou o barco e nos ajudou na recuperação.

Obrigado, Alceu, por suas palavras, curtas, mas da agressividade que se precisa para enfrentar tubarões. Obrigado, professor, apesar de tudo e de todos, você nunca foi covarde, nunca amarelou, e mesmo contra todas as correntes, nas marés baixas e altas, soube fazer da vida uma piada.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Hussein rules!

O que significa o dabliu do George W. Bush? Walker, certo? Walker, dentro do que sei de inglês, pode ser andarilho. Bush tem um pouco de andarilho. Ele enfrenta o alcoolismo. Andarilhos, normalmente, também enfrentam o alcoolismo. Barack Obama, candidato Democrata à presidência dos EUA, tem entre Barack e Obama a letra H. E o que o agá significa? Hussein. Sim, Hussein, o mesmo de Saddam Hussein. O Hussein da família que levou Mr. Walker Bush a invadir o Iraque e, depois do Vietnã, a fazer uma das maiores imbecilidades da História. E o que pode mudar na eleição americana o Hussein de Barack Obama? Acho que nada. Mas não deixa de ser, no mínimo, curioso. Vai atrapalhar Obama? Também não. Até porque o maior problema de Obama (alguma coincidência com Osama?) não é ter Hussein no nome, mas por ser negro. Só que Bush Walker matou Saddam, e transformou o enforcamento do ditador em triunfo bélico. Mas essa guerra por petróleo enfiou a sua popularidade, e também a dos EUA, no lixo, e criou o que bem definiu Arnaldo Jabor como "uma nova Palestina". A partir de 2009, Bush sairá do poder como uma das maiores tragédias que a América elegeu. Já Obama, se vencer as eleições americanas, carregará consigo o seu nome do meio, Hussein. E perpetuará essa família, que volta ao topo, agora na pele de um negro. Isso, sim, é triunfo. Mas do acaso. Apesar dos percalços e dos andarilhos que chegam ao poder sem ter conseguido vencer o alcoolismo.

EU ODEIO... sindicalista que berra por democracia mas está há duas ou três décadas no comando de sua entidade -- e como diria minha mãe, sempre por livre e espontânea pressão.


"Necessidade não tem a mesma pureza do acaso". (Marcelo Nova)

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Hã?! Boiei...

Se passo mais de meia hora assistindo televisão, sobretudo a programação "aberta", nos domingos, é sinal que o meu dia sagrado está capenga. Por isso, evito. Não é por moralismo ou arrogância intelectual. Televisão é algo que não me agrada. Sou mais leitor, e menos telespectador. Mas, enfim, neste domingo, dentro do meu limite da meia hora, assisti o esculacho que o pessoal do Pânico na TV aplicou na tal dupla Silveira e Silveirinha, que aprontou feio para alguns artistas de renome nacional, entre eles Wagner Moura, que publicou artigo na Folha de S. Paulo colocando sua incredulidade diante do fato. Dois ditos "repórteres do interior" que o usaram somente para "fazer graça" é algo que, sem dúvida, só o mais imbecil dos viciados nesta baboseira do culto à personalidade gostaria. E Wagner Moura fez certo. Espero que, com isso, possa definir a classe dos não-alinhados à essa exploração. Pois bem. Mas no domingo, 8, o Pânico na TV deu um esporro, ao vivo, e em alto e bom som, do tipo "vocês têm que ralar muito para chegar onde chegamos", na dupla de Campinas. Só não consegui entender: não foi o Pânico que autorizou retransmitir o programa da dupla dentro de sua programação? Não são eles os tais que causam náusea nos "artistas e celebridades"? Não entendi o objetivo da armação de "puxar a orelha" dos tais Silveira e Silveirinha. Boiei. Para mim, não passou de falso moralismo.

EU ODEIO... atletas que treinam para ganhar medalha nas Olimpíadas como se fosse um favor à nação brasileira; e odeio quem aceita esse papinho também...

"Enquanto não alcançares a verdade, não poderás corrigi-la. Porém, se a não corrigires, não a alcançarás. Entretanto, não te resignes" (Do Livro dos Conselhos, citado em História do Cerco de Lisboa, do José Saramago)

terça-feira, 10 de junho de 2008

Crise de legitimidade

Não há nada mais nobre que a legitimidade. Ainda, pelo menos no português e dentro dos meus limites, não consegui palavra semelhante com tal magnitude. E ser legítimo consiste em ter credibilidade, saber ser passível quando é necessário, ser raivoso quando a raiva funciona, ser odiado e amado, sem pieguices, mas porque a personalidade impõe-se aos fatos. E não o contrário. Tenho preocupação em ser legítimo em tudo que faço; o que, obviamente, não representa ser melhor, nem pior; mais belo, ou feioso; mas, enfim, legítimo. Ser reconhecido dentro de minhas coerências e contradições. Mas é custoso, não se ganha legitimidade; ela é merecimento. Ao escrever minha monografia, sobre Incomunicação dos Meios de Comunicação Globais Sobre o Local/Cidade, não sei se estou sendo legítimo. A produção acadêmica tem dessas. Pela necessidade de buscar referências, parece que tudo que penso soa ilegitimo. E essa busca dorme comigo, levanta comigo e duvida comigo. Vivo uma crise de legitimidade. Legítima, inclusive.

EU ODEIO... entrevistas de artistas da Globo em programas da Globo; não é por ser Globo, poderia ser qualquer lugar; é nojento; aliás, escassos estão os bons programas de entrevistas.


"We can change" (Frase da campanha do candidato democrata às eleições dos EUA, Barack Obama. Esse cara é bom; tem algo, que não sei o que é, mas que falta nos políticos)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Meus cabelos brancos

Eles estão tomando conta da minha cabeça. Meus cabelos brancos mostram que os meus recém completados 27 anos são mais do que eu posso sentir. Os meus amigos, todos indiscretos, teimam em ressaltá-los, em questionar a branquice de meus cabelos nessa cabeça ainda jovem (sem pretensões, uai). Eles chegaram antes da calvice e estão aqui para ficar; mais, para se multiplicarem e me deixarem com a pulga atrás da orelha. Não é gostoso ter cabelos brancos. Não pela velhice. Mas porque branco não é bom para cabelos. As cores boas são o castanho, o meu natural, ou o ruivo, o vermelho, vá lá o amarelo, até o azul e o verde (esse último já me arrisquei em pontuar meus fios). Mas branco, não. Branco, a cor da paz, é boa para tantas outras coisas, menos para tingir os cabelos. Talvez seja porque o branco, na verdade, é a falta de cor, e ninguém quer ter a cabeça faltando alguma coisa. É a cor da ausência, da falta. E quando os anos passam, a gente não quer ter ausências, mas presenças; ausência é saudade; saudade é nostalgia; nostalgia, sim, isso é sinal de velhice. Não gosto de cabelos brancos, apesar de tê-los. Sei que tingir os meus cabelos não resolverá. Por isso, vou mantê-los, cuidá-los, e ter a mesma relação com que tenho com o meu nariz. Apesar de não gostar -- ele é muito do estilo chamado batata --, o mantenho no ponto central da minha cara. Pois bem, que venham os cabelos brancos.

EU ODEIO... assessor de imprensa que teima em sugerir pautas como se elas fossem importantes para o bem comum e não para que eles prestem contas a seus clientes.

Um abraço, um amasso e um arregaço!



"Você estourou um dos cérebros mais singulares da nossa era". (Memorando de Ralph Steadman, publicado na revista Piauí, em homenagem a Hunther S. Thompson, o pai do Jornalismo Gonzo, que cometeu suicídio em 2005)

terça-feira, 3 de junho de 2008

E lá vai...

Mais uma. E não é a última. Quem sabe é a derradeira, ou talvez a que se solidifique, crie asas, voe, suba aos céus, tenha tentáculos para agarrar a si própria, e construa o seu próprio ninho. Mais uma, e nem sei dizer se, quiçá, é a mais intensa. É apenas mais uma, de outras tantas, que foram e vieram, chegaram e voltaram, saíram e entraram, rodopiaram e aterrisaram, descoordenadas, desconexas, desvalidas e caídas em valas comuns. Mais uma, e vá lá, quem sabe, a que eu esperava há tanto tempo, aquela que viesse com sentido duplo, com amor intenso, e com ódio voraz; mais uma, meu bem, minha espécie querida, minha dor aguerrida, que não se cura, só corrói, não mata, só ameniza, que cria feridas que com o tempo não secam, mas continuam a jorrar sangue e pus, que pusessem sossego ao ardido da lâmina. Só mais uma, e não lhe digo mais nada, apenas sento e me conforto com a palavra. Usada errada, no fim do silêncio, culpada pelo trôpego destino do sentimento caído. Só mais uma, juro, só mais uma vida, por mim, só por esse viés, por todos, e de uma só tacada. Só, e não só por essa vez, vou retomar essas palavras, escrever calmo em trovoadas e agitado em calmaria essse Pensamento d'Odia.


Aproveito a volta para lançar um novo 'quadro', chama-se: EU ODEIO. E começo hoje. EU ODEIO... jogador de futebol com origem humilde que tem orgulho de ter chegado onde chegou.



"Eu sou um falso profeta e Deus é superstição" (Essa frase, do filme Sangue Negro, dita pelo personagem de Daniel Day-Lewis, desde que a ouvi, não saiu da minha cabeça)

terça-feira, 25 de março de 2008

Kane, Charles Kane

A típica apresentação bondiniana bem que poderia ter sido antecipada nos anos 1940. E, se fosse, com certeza estaria em Cidadão Kane. Após comprar o New York Inquirer, o magnata diria: "My name is Kane, Charles Kane". Depois disso, agarraria sua esposa -- a segunda, principalmente, que era a 'cantora de ópera' -- e a beijaria bem ao estilo Homem-Aranha 2, quando o próprio lasca uma beiçada na Mary Jane, a mulher não a erva. Sim, se Kane fosse um filme somente, talvez o roteiro seria mais ou menos assim. Mas não é. E por isso, mesmo eu, que assisti a película praticamente 70 anos depois que ela foi produzida, numa cidade infestada por canaviais e num país onde a maioria é analfabeta -- do presidente ao faxineiro --, tive um impacto que transcende a este hiato que engloba ao menos três gerações.

O que é bom em Cidadão Kane, depois que todo seu aparato técnico ficou obsoleto e ultrapassado? Depois, inclusive, que jornal impresso deixou de ser única referência como mídia, e tem sua influência diminuída? Talvez por que Cidadão Kane antecipa a revolução audiovisual do Século XX? Pode ser, mas é mais que somente isso. Ele é bom, a meu ver, porque conseguiu encanar na história de um mito tudo o que se acreditava, sobretudo naquele período, em relação ao que a comunicação veloz e presencial poderia oferecer. Mas sem cair em tentação, o filme já coloca na mesma medida tudo o que seria o problema da segunda metade então vindoura daquele século e que persiste: a metáfora midiática como balizador de realidade.

Kane, neste retrato, é a força de imposição desta metáfora. Ao tentar promover sua esposa como cantora lírica e ao denunciar em seus jornais empresas de sua propriedade, ele demonstra a característica persuasiva da mídia. Não é a toa que ele se abdica de suas fábricas e empresas, como uma de transporte público, para "apenas cuidar de um jornal, o que lhe parecia divertido". Orson Welles foi feliz -- não, foi genial -- ao captar com maestria esta nova ordem que se estabeleceria anos mais tardes com o fim da Segunda Guerra Mundial e com a disseminação da informação eletrônica, hoje amplificada com as possibilidades da Web.

Demorei para assistir Cidadão Kane. Todo estudante de jornalismo sabe da necessidade de conhecer essa obra-prima do cinema -- segundo a Revista Bravo, o filme mais importante da História --, por isso, sei que a minha morosidade foi grande. Mas interessante que ele veio exatamente quando estudo "crise do Sujeito sob a força da mídia global". Ele veio justamente quando precisava de alguém para me tirar de minha crise conceitual, como uma espécie de James Bond, mas que atende por outro nome. Kane, Charles Kane.



"Mesmo o homem supersticioso tem direitos inalienáveis. Ele tem o direito de defender suas imbecilidades tanto quanto quiser. Mas certamente não tem direito de exigir que elas sejam tratadas como sagradas." (H. L. Mencken. Não conheço o fulano nem mais gordo nem mais magro. Apenas achei a frase e, depois de escutar uma baboseira anti-células tronco, dá para dar uma relaxada)

segunda-feira, 3 de março de 2008

Chatice aguda

Triste notícia. Virei um chato. Daqueles chatos, mesmo. Mes-mo. Do tipo que leva serviço para casa, que não responde quando é chamado, que só faz aquilo que lhe é útil, do ponto de vista pragmático da palavra. Chato daqueles que não sai para se divertir, mas para fazer networking, que procura se postar de maneira correta, com postura, ereta, se possível -- e ainda mais, se possível, em uma roupa social. Sou do estilo do chato que não vê graça na brincadeira das ruas, de quando o outro chama o outro, do outro lado da rua, e grita: Ê, viado! Como vai a mãe? E o outro responde: Não como a sua, mas vai indo. Essa é a minha espécie. A do chato.

Não gosto de ver torcedor feliz ou alguém feliz por ter passado mais tempo com o filho. Aliás, não gosto de 'felicidade nas pequenas coisas'. Detesto, inclusive, brasileiro feliz; essa raça, a dos brasileiros (não cafusa, mas confusa), não deve ser feliz, não nasceu para isso, ela precisa ser como eu, afinal. Ela precisa ser chata. Minha chatice só não perturba porque eu, como um chato, busco me isolar em meu mundo e, como um autêntico, não divido minhas chatices com qualquer semelhante.

Além de chato, sou egocêntrico, e faço do meu egoismo ponto alto da minha chatice. No meu e-mail -- não o comercial, obviamente, iria pegar mal -- tem a palavra 'ego', emendada por um underline, com o sufixo 'tosao', numa junção medíocre de poesia barata, destas vendidas em postos de gasolina, nas quais muita gente cai porque passou o Ensino Fundamental em aulas de janela -- no caso de quem estudou no estado -- ou 'fazendo farra como são os jovens' -- no caso de quem passou pelas particulares.

Sou chato da melhor espécie. Busco referências fora de moda para justificar aquilo que não gosto e de que está na moda. Tento provocar riso ao me usar como escada. Tenho pedigree de chato e, assim, vou sendo a minha própria chatice. Aguda. Pontuda. Destas que cutucam. E fazem cócegas nos mais sensíveis e arranhões nos mais carrancudos.

Até!



"A pressa é inimiga da paciência" (Essa é minha, ao explicar para minha mãe porque não estava com pressa de limpar a cozinha)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Imprensa versus Igreja versus Estado

Não assino a Folha. E isso não seria importante se não tivesse recebido um exemplar em casa no dia em que o jornal publicou um editoral na capa -- aliás, acho tão clássicos editorais em capa, dizem tantas coisas -- para iniciar uma guerra contra a Igreja Universal do Reino de Deus, a famigerada IURD. O texto informou que a igreja comandada por Edir Macedo entrou com processos em várias partes do país sentindo-se lesada pela reportagem, publicada em dezembro -- naquela ocasião, a jornalista Elvira Lobato listou o patrimômio da IURD.

A Justiça, porém, viu na prática da IURD 'litigância de má-fé', que, em linhas gerais, significa usar o Judiciário para fins funestos, no caso a Universal tentou intimidar a jornalista e o jornal. Os processos, importante destacar, foram impetrados em diversas comarcas do país, alguns rincões, inclusive, onde nem a Folha circula. O motivo foi visto pela Folha, assim vejo também, como um atentado, ordenado, orquestrado, meticulosamente engendrado, à liberdade de imprensa. E, vindo da IURD e seus asseclas, não tem como não chegar à mesma conclusão.

O mais notável é o artigo de Nelson Hoineff no Observatório da Imprensa (http://www.observatoriodaimprensa.com.br/). Não o texto em si -- 'O segundo chute na Santa' faz alusão a fato ocorrido em 1995, quando Edir Macedo foi obrigado a pedir desculpas pelo desrespeito à imagem católica romana. Mas a diversos comentários de internautas que viram, na atitude de Hoineff, corporativismo e que a imprensa não deseja além do que 'insuflar seus leitores contra a Igreja Universal'. É assustador. Por dois motivos: como a imprensa está realmente em baixa e como essa moda de justificar erros atuais por antigos pegou. É um tal de que a Globo também fez isso pra cá e a Folha fez isso pra lá que dá até ânsia.

Na minha ironia, indigesta e altruísta, vejo o problema como um costume, leia-se: cultura, da IURD e seus congêneros neopentecostais em usarem a religião como fachada para justificar atentados à imprensa, ao Estado, à crença dos índios, fazer pactuações, formar partidos políticos. E, pior de tudo, ser aceita dentro do que, absurdamente teórico, estaria 'em seu direito'. Ora, esse povo mercantilizou a fé. Justo o que a Igreja Católica levou mais de mil anos para parar de fazer depois Idade Média, aqueles que foram chamados de Tempos Obscuros, ou aos tempos das indulgências. Que, parece-me, voltam com o vigor de um pastor picareta, transformando a fé em Jesus Cristo simplesmente num vil metal.

Fidel x EUA

Sempre achei que o embargo econômico dos Estados Unidos a Cuba é, em suma, mais valioso para o governo da ilha caribenha que para os norte-americanos. Os erros e as dificuldades no espaço antes dominado oficialmente por Fidel Castro - mas ainda hoje calcado em seu espectro - foram apoiados no confronto entre 'imperialistas' e 'revolucionários'. As casas mal acabadas, as estradas ainda não duplicadas, os prédios velhos e em constante reforma, tudo é culpa do embargo e os limites rasos para o desenvolvimento econômico de Cuba. Mas o embargo, suas jusiticativas e o que ele justifica, é, nada mais, que caduquice política.

Desde terça-feira, 19, quando Fidel Castro se oficializou em seu exílio político -- antes era o pai do país, agora será Deus -- tenho acompanhado o noticiário nacional e internacional sobre este fato histórico da geopolítica. E em todos os artigos, o cuidado é sempre em apontar 'os avanços da revolução' e 'o estilo personalista de Fidel Castro'. Ora, Cuba, não o país, mas o assunto em si, virou conversa entre duas gerações disléxicas, que comandam a política externa estadunidense e a burocracia internacional do governo de Cuba. O embargo é um erro e não faz sentido na conjuntura atual. Sendo extinto, tiraria de Fidel Castro o seu álibi na dificuldade de desenvolver o país que ele tomou para si.

Não entendo porque os governos americanos, principalmente George Bush, o pai, Bill Clinton e George Bush, o filho, manterem essa política canhestra pós-Muro de Berlim. Antes, o embargo era justificado pela guerra entre as potências e o fato de Cuba estar disposta a ser base militar dos países socialistas. Não há justificativa, a não ser a mirabolante idéia de que a relação entre Fidel e os EUA não passa de jogo de cena, para a continuidade do embargo que alimenta a personalidade egocêntrica de Fidel e que, economicamente, não tem valor aos Estados Unidos.

O maior trunfo de Fidel Castro não foi ter deposto Fulgência Baptista, que não passava de um ditador que vivia sob seu próprio ego, mas ter se colocado como vítima de uma briga que ele sempre alimentou, seja em seu próprio terreno com sua mídia armada, seja fora dele, com sua habilidade inquestionável de criar ambigüidades. E tudo isso por uma ideologia socialista que só lhe fez sentido depois que lhe foi útil no ‘mercado político’ da Guerra Fria. Mais que uma vitória revolucionária, Cuba é o maior erro da política internacional dos EUA.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Bênção, Don Corleone

Na minha mania de inventar estratégias e objetivos pessoais, tenho comigo o desejo de assistir todos (ou a maioria, para ser menos pretensioso) dos filmes clássicos, com base na revista Bravo, que em dezembro publicou uma lista de pérolas da sétima arte. Já assisti alguns, como 2001: Um Odisséia no Espaço, Casablanca, A primeira noite de um homem e O Poderoso Chefão. Esse último, vi a triologia. É, sem dúvida, um filme magnífico e mostra o que se pode chamar de excelência. Francis Ford Coppolla soube captar um momento peculiar das mudanças sociais e comportamentais, a partir da ascensão, métodos e dificuldades da máfia Siciliana instalada nos Estados Unidos desde os remotos anos 1920.

O Poderoso Chefão é uma aula de cinema. É um desses asteróides que passam de tempos em tempos para que nos tornemos a entender como chegamos aqui, e o que aconteceu no período em que estávamos cegos. É um filme que nos tira do obscurantismo secular. Ele nos contribui para redefinir o norte dos nossos sonhos e readequa a coragem de nossas condutas. Não é à toa que a produção que traz os novatos Al Pacino e Robert De Niro, além do mito Marlon Brando, está em segundo lugar na lista da revista Bravo. Perde apenas para Cidadão Kane.

Um fato que me chamou a atenção é o posicionamento da mulher. No período Don Vito Corleone, o primeiro chefão, o papel da sua esposa era de uma mama italiana, que sabe dos seus limites em relação à ocupação do marido. Muda e calada, não exerce papel pró-ativo. Já a esposa de Michael Corleone tem outra postura. Rompe o seu relacionamento por entender que os negócios do marido colocam em risco os seus filhos e a si própria -- e ela tinha razão. Em nenhum momento, porém, o diretor mostra Kay, a esposa, indo a uma manifestação pelos direitos da mulher. A mudança comportamental apenas acontece, e fica implícito que a máfia Siciliana, embora poderosa, já mostra desgaste em acompanhar as metaforses da sociedade. Este aspecto da mulher é sútil. E determinante.

O Poderoso Chefão me deixou em transe. Como vivi até hoje sem ter compreendido esta obra...

Bênção, Don Corleone.

Erich



"Vou lher fazer uma proposta irrecusável" (Vito Corleone)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Noventa dias...

Era para eu ter escrito esse texto no dia 21 de janeiro. Mas não foi possível. Os motivos são os de sempre - muito trabalho, pouco tempo para pensar em algo interessante e pouco algo interessante para ser pensado. Enfim, o de sempre. Nada novo, o que, inclusive, dá mostras do que será 2008. Mas escrevo esta crônica hoje, 4 de fevereiro. O dia 76. Já explico melhor isso. Antes, é preciso voltar à infância e falar dos métodos de ensino aos quais fui submetido.

Em cada traquinagem (ô, palavra estranha, só uso quando falo da infância) ou em cada erro, seja ele intencional ou não, o meu pai sempre dizia: "90 dias de castigo cura". Esse período, 90 dias, ou três meses, que equivale também ao que legalmente um funcionário tem de experiência em uma empresa, era a base que o meu pai utilizava para aplicar correções em nós - eu e meus irmãos, Erika e Evaldo. Na realidade, não me lembro se o castigo levava todo este tempo, mas que, ao menos, ele fica nos impregnando, isso sim: 90 dias, 90 dias, 90 dias...

Pois bem. Isso ficou em mim e, imagino, que tudo nesta vida, as coisas boas e ruins, sempre duram 90 dias, um pouco mais, um pouco menos. Após esse período, tudo precisa ser reavaliado. Precisamos, a cada 90 dias, fazer reflexões e colocar mais 90 dias para o que é preciso ser feito e, de 90 em 90 dias, a vida vai se levando, com seus erros, acertos, tensões e tesões. Comecei 2008 com uma promessa, de 90 dias, lógico, e que só lá, daqui a 76 dias, verei se haverá resultado. Entrei num 'processo regressivo' - cunhei a expressão do meu irmão, que é cheio de expressões interessantes --, popularmente chamado de 'regime', 'dieta', 'reeducação alimentar' etc.

Desde 21 de janeiro, abandonei o meu maior vício -- Coca-Cola (de preferência com rótulo vermelho, sem alegorias natalinas e sem variações para light, diet ou zero) -- e tenho feito exercícios, aeróbicos e musculatórios. Meus amigos quase não me reconhecem. Sábado, 2, por exemplo, passei um churrasco inteiro tomando água, acho que cheguei aos três litros, e comi de acordo com o horário programado, intercalando folhas nas refeições.

Para não morrer de loucura, coloquei que vou manter minha dieta com rigidez por, pelo menos, 90 dias. Não sei o que farei depois, nem quero discutir neste momento. Alguns dizem, mas pô depois você vai voltar na mesma?, eu respondo. Não, lógico que não. É só um período para eu fazer uma auto-análise e ver o que está me ajudando, o que só piora. Enfim, é uma coisa de infnância. Afinal, me acostumei a viver a vida a cada 90 dias.

Um abraço,

Erich


"O espírito livre não quer ser servido e nisso está sua felicidade". (Friedrich Nietzsche)

sábado, 19 de janeiro de 2008

Ano novo, blog novo

Minha querida rapaziada, amiga, honesta, trabalhadora, arredia, que arrepia e não desanima. Esse meu pessoal, os três ou quatro que me amam, aqueles que se cansam de mim e a maioria que me ignora. Aos meus bons amigos, os mais conhecidos, os menos íntimos, os que estão quase perto, mas nem muito longe, e entre os que a vida criou um abismo entre nós. Louvemo-nos. Satisfacemo-nos. Queiramo-nos. Tenhamo-nos. Alguém disse o certo, outro fez do correto a virtude, e a virtude se desmoronou perante três palmadas nas costas. Chicoteiemo-nos. E se tudo isso estiver errado, apenas ignore. Feliz Ano Novo, tenham em 2008 a felicidade que faltou em 2007 e o pecado que vai demorar até chegar 2009. Pequemo-nos, pequeninos.