quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Obama, Osama e Alabama

Tenho acompanhado, com certo afinco, a eleição dos Estados Unidos. Saber se a política republicana irá continuar, ou se há esperança para uma renovação -- e que renovação! -- democrata, são possibilidades que me levam a jogar minha atenção ao que acontece no Norte do Continente. Mas de tudo o que li, vi e ouvi a respeito do sufrágio norte-americano, o melhor veio na edição de quarta-feira, 29, do jornal O Estado de S. Paulo. Artigo assinado por Rosa Brooks, especializada em Direito, sob o título "O mito da verdadeira América", é simplesmente magnifíco. Ela descontrói o principal argumento da campanha repulicana de que há um Estados Unidos mais legítimo que outro. Ou seja, o americano que mora nas pequenas cidades, crente em Deus, patriota e branco representa o que "a América tem de melhor". Para rebater essa idéia, que beira a limpeza étnica, Rosa coloca que 80% do povo estadunidense mora em metrópoles. Além disso, ela lembra que 1/3 não é branco, outros quase 66% acreditam que cobrar melhorias do governo também é um ato patriota (e não só usar broches com a bandeira americana) e embora a grande maioria seja cristã, cerca de 70% entende que é possível chegar à 'revelação' por outras religiões. Enfim, existe um novo EUA emergindo e os republicanos estão perdendo pé da situação. É evidente que esse país fora dos padrões do Partido Republicano precisa sair no dia 4 de novembro para votar em Obama. Já disse, e repito: se fosse americano, votaria em Obama. Não por ele ser negro, evidente. Mas por representar um novo país.

EU ODEIO... criança berrando em supermercado (e o pai que não dá um jeito na coisa)


"A cada ano que passa, os EUA 'autênticos' do mito republicano assemelham-se cada vez menos aos EUA da maior parte da população do país" (Rosa Brooks, só para resumir o tratado)

domingo, 26 de outubro de 2008

Capa, copo, culpa...

As bebidas explicam a civilização. Dão a noção de como, porque e quando a sociedade evoluiu -- entendam evoluir no sentido puro e simples da palavra, por favor -- e demarcam situações imprescindíveis à História. Essa visão não é minha, na verdade. O jornalista inglês Tom Standage escreveu o livro 'A história do mundo em seis copos', onde ele coloca essa teoria em prática: cerveja explica a Mesopotâmia e o início da civilização; o vinho, o Império Romano e a Democracia Grega; os destilados, o período das grandes navegações e as conquistas além do Velho Continente; o café, a minha preferida, quebrou o período de embriaguez no mundo e trouxe o Iluminismo; o chá traz à tona as Companhia das Índias Orientais e o domínio inglês; por fim, a Coca-Cola demarca o desenvolvimentismo e o Império Americano. Bebidas, enfim, são divisores de água -- entendam sem qualquer metáfora, por favor. Importantes a ponto de serem elas, em alguns momentos, vetores do desenvolvimento. Beber é celebrar a vida, já disse alguém. Dia desses, fiquei intrigado por serem os copos de requeijão os mais utilizados na hora de beber algo em casa. Não que sua simplicidade e praticidade não sejam fundamentis -- reutilizá-los é algo nobre. Mas existe uma imensa diferença quando um copo tem em seu formato força suficiente para alçar a condição de qualquer bebida, alcoólica ou não. Ao usar uma xícara robusta ou invés de um copo de requijão para tomar meu café, por exemplo, sinto que há um respeito no trato de produto fundamental. Sinto que quando se respeita a História com um recipiente a altura de seu preenchimento há uma simpatia mútua; e cada gole torna-se mais que mera saciação de um desejo fugaz; mas torna-se bebericadas na jornada humana. Entendam isso como quiserem.

EU ODEIO... qualquer coisa que tenha o menor vestígio de canela.


"Se você quer algo urgente e bem feito, encomende-o a quem não tem tempo". (José Carlos Machado, autor de Casos, Lenhas e Lorotas de Jequitinhonha. A frase é boa, mas o autor, não conheço; encontrei num site por aí)

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Dead Kennedys!

A morte de Kennedy, não apenas do John, mas também do Robert, é, talvez, um dos acontecimentos mais significativos dos anos 1960. Ela envolve tudo, ou quase tudo, que se passava no mundo naquele período. Não precisa ser eu, um mero provinciano, a discorrer sobre ela para que um bom entendedor, aquele mesmo, da meia palavra, possa entender. Há literatura e filmografia suficiente para dar conta. Um deles, no caso filme, é "JFK", título em inglês, que no Brasil recebeu o subtítulo "A pergunta que não quer calar", algo assim -- acho tão inútil esses tipos de subtítulo --, produzido nos idos 1991, pelo diretor Oliver Stone, tendo no elenco figurões, entre outros, do tipo a dupla Kevin Costner e Bacon, e Tomy Lee Jones. É simplesmente arrebatador. O filme trata de uma teoria de conspiração, com participação da CIA e FBI, para matar o presidente John Kennedy, em 1963, e posteriormente o seu irmão, em 1968. Tudo porque os irmãos Kennedy atentavam contra o interesse, principalmente da indústria bélica americana, ao se colocarem, e colocarem em seus planos de governo, o fim da Guerra do Vietnã. O filme é obrigatório para quem quer entender o período. Tem de tudo: bêbados, comunistas, fascistas, comunistas disfarcados; Cuba, Fidel Castro, Kruchev, definitivamente tudo o que a geopolítica dos anos 1960 produziu de melhor e de pior. E dentro de tudo isso, uma evidência forte: a morte John Kennedy foi um Golpe de Estado, e um raciocínio que coloca a América de ponta-cabeça: se um primeiro-ministro soviético tivesse sido morto, sob a mínima suspeita, todos estaríamos dizendo que ele foi vítima de um grande complô do partido comunista, mas como no caso foi um presidente americano, uma terra que fala de democracia e liberdade, pensamos que a mente (e mira) brilhante de um mero ex-comunista, como Lee Harvey Oswald, seria suficiente para matar o presidente. Depois dessa, eu parei: cortei um limão ao meio, fiz da metade três fatias, coloquei num copo baixo com três ou quatro pedras de gelo (não lembro ao certo), adicionei rum e Coca-Cola. Depois dessa, quero que o mundo acabe em Cuba Livre.

EU ODEIO... jornalista com registro e filiado na Fenaj.


"Drug Me" (Dead Kennedys)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O papa é pop, porra (digo, pô)

Vi uma frase de Victor Hugo em que dizia algo em torno da liberdade. Na filosofia, uma coisa; no direito, outra; na política, outra. Enfim, não lembro de cabeça -- aliás, no máximo, decoro letras de músicas, quando decoro melodias; poesias e frases, sou péssimo. Mas fato é que, liberdade, em qualquer esfera sempre será nobre. Liberdade, afinal, é tudo o que o ser humano busca desde que entendeu que era preciso ter liberdade para fazer as coisas. Liberdade para ir, vir, pensar, amar, criar, vender, comprar... ah, liberdade, abre as asas sobre nós! Vivemos, pois, num mundo que procura a liberdade nos picos dos montes, nos mais profundos oceanos; dentro de nós mesmo e em qualquer outra pieguice que se valha. Liberdade, ao invés do que se pensa, não é expansão, é limite. Ela sempre começa estreita e depois vai se alargando; não o contrário. Porque ela simplesmente não existe se não há parâmetros sobre prisão; confabulando com Euclides da Cunha -- perdoem-me os deuses da gramática -- o liberto é, antes de tudo, um ex-prisioneiro. Daí, vem o caso de que para ser um liberto minimamente qualificado é preciso ter passado por uma prisão também minimamente qualificada; sem exorcismos, sem que a violência detrás das grades nos deixe rebeldes ou mórbidos. Prisão violenta vira trauma. Mas a liberdade, pura e simplesmente, virou bandeira. Bandeira pop, inclusive. Dos clipes em que os cabelos soltos, libertos, movem-se aos ventos, as danças movem os corpos juvenis e as cinturas ninfas. A liberdade vem embrulhada em discos (em downloads), roupas rasgadas, cores vibrantes, correntes, piercings, atitudes infantis. Ela vem unânime, sem nada que a conteste; sob as vestes do we don't need no education. E quando ela chega, a falta de referência da prisão cega; e a liberdade, acima de tudo e todos, é a única vetora das emoções. Daí, que todos libertos, sem prisões para quebrar; ficam presos novamente. Presos na liberdade.

EU ODEIO... palestras de motivação.

"Quem não é capaz de ser pobre, não é capaz de ser livre." (Victor Hugo. Na verdade, tentei encontrar a frase que esqueci; mas essa aí foi demais, adorei, me sinto cada vez mais livre)