quinta-feira, 21 de agosto de 2008

'Ateu, Graças a Deus'

Passei as duas últimas horas imerso na edição de agosto da revista Rolling Stone (versão brasileira), que tem o escritor, mago, superclasse, imortal e babaca, Paulo Coelho, na capa. Eu acrescentei o babaca por pura chatice, mas alguém como ele, que alcança o que ele alcançou, o próximo passo é ter a crença dos fanáticos e o descrédito dos céticos. Como sou cético, meus amigos sabem disso, acho Paulo Coelho um babaca. Mas o perfil sobre PC (como o chamarei daqui para frente, se o chamar) é intrigante, e me levou a questionar a minha fé. Digo, a ausência dela. Por um momento, inspirado nesta madrugada fria, ao som de Amy Winehouse, me deti a pensar a ausência de fé que me pegou desde os 19 anos, portanto há cerca de oito.

Já fui do tipo que falava de ateísmo para provocar crentes (e isso é tão prazeroso, acreditem), mas a fase passa e hoje procuro me esconder. Falo o mínimo sobre fé para quem não conheço. Os meus amigos (e a Flávia), ao contrário, ainda precisam aguentar meus ataques anti-deuses. Mas de repente me peguei a pensar em o que se espera da vida um ateu, alguém sem fé e que sente a morte como um sono profundo, uma varredura da existência de um corpo frágil, corrupto e ávido por prazer. Não há causa em ser ateu. Diferente dos vegetarianos, que buscam o equilíbrio ambiental da vida, a 'gente da minha gente' acaba se curvando ao ostracismo.

O que resta é essa vida no sentido estreito do materialismo; do tempo-presente; do imediato; a arte como criadora de rituais; e o cotidiano como poesia. E a pressa. A certeza que tenho menos de 80 anos de vida -- isso se a genética for boa comigo, a ciência me ajudar e eu não bater o carro. Por isso, não há glamour em ser ateu. O que existe é apenas esse fio de certeza, de que todos ainda buscam uma corda para agarrar, enquanto eu já me soltei e estou flutuando... rumo ao desconhecido, sozinho e sem medo de me esborrachar no chão.


EU ODEIO... berimbau na mão de maconheiro.


"Me dê um corpo vivo para eu encher a minha pança" (Raul Seixas em 'Rock do Diabo'. Leiam devagar, com atenção e mais de uma vez; e sinta-se com a boca ensanguentada)

3 comentários:

Rodrigo Alves disse...

Cara, sabe que concordo em relação ao PC...
Outro dia o Jaime Leitao comentou que o maior engodo na literatura era classificar Paulo Coelho como literatura... fui obrigado a concordar...
Rodrigo Alves

Anônimo disse...

Claro que os ateus têm um propósito, que, aliás, vc cumpre bem, meu caro. Ser chato e achar que quem não compartilha da sua crença (ou falta dela) precisa ouvir boas verdades. A única coisa que eu admiro nas pessoas de fé é a - veja só - fé. A maneira como ela professa essa fé sempre será questionável, mas o ideal de crer em algo superior eu acho lindo (até mesmo por ser incapaz de tal proeza), embora seja sempre vilipendiado por ateus chatos. Tô brincando quanto à sua chatice, Erich, mas tem ateu que é muito chato (maioria absoluta), bastando para constatar esta idéia uma pesquisa em sites de busca em comunidades formadas por ateus. Enfim, obrigado pelo alô na morte da minha avó, meu caro. São detalhes como esses que me fazem tê-lo como fiel amigo.
Felipe

Anônimo disse...

Aposto que a cena do filme não te sai da cabeça "Eu sou um falso profeta e Deus é superstição".
Odeio falsos profetas porém acho que deus não é uma supertição, ele me faz sentido.
Agora vc é tão humano que os ensinamentos de jesus são levados sem querer a risca. E isso que me importa. Tirando claro a gula por coca e picanha e o sonhos capitalista.