terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Imprensa versus Igreja versus Estado

Não assino a Folha. E isso não seria importante se não tivesse recebido um exemplar em casa no dia em que o jornal publicou um editoral na capa -- aliás, acho tão clássicos editorais em capa, dizem tantas coisas -- para iniciar uma guerra contra a Igreja Universal do Reino de Deus, a famigerada IURD. O texto informou que a igreja comandada por Edir Macedo entrou com processos em várias partes do país sentindo-se lesada pela reportagem, publicada em dezembro -- naquela ocasião, a jornalista Elvira Lobato listou o patrimômio da IURD.

A Justiça, porém, viu na prática da IURD 'litigância de má-fé', que, em linhas gerais, significa usar o Judiciário para fins funestos, no caso a Universal tentou intimidar a jornalista e o jornal. Os processos, importante destacar, foram impetrados em diversas comarcas do país, alguns rincões, inclusive, onde nem a Folha circula. O motivo foi visto pela Folha, assim vejo também, como um atentado, ordenado, orquestrado, meticulosamente engendrado, à liberdade de imprensa. E, vindo da IURD e seus asseclas, não tem como não chegar à mesma conclusão.

O mais notável é o artigo de Nelson Hoineff no Observatório da Imprensa (http://www.observatoriodaimprensa.com.br/). Não o texto em si -- 'O segundo chute na Santa' faz alusão a fato ocorrido em 1995, quando Edir Macedo foi obrigado a pedir desculpas pelo desrespeito à imagem católica romana. Mas a diversos comentários de internautas que viram, na atitude de Hoineff, corporativismo e que a imprensa não deseja além do que 'insuflar seus leitores contra a Igreja Universal'. É assustador. Por dois motivos: como a imprensa está realmente em baixa e como essa moda de justificar erros atuais por antigos pegou. É um tal de que a Globo também fez isso pra cá e a Folha fez isso pra lá que dá até ânsia.

Na minha ironia, indigesta e altruísta, vejo o problema como um costume, leia-se: cultura, da IURD e seus congêneros neopentecostais em usarem a religião como fachada para justificar atentados à imprensa, ao Estado, à crença dos índios, fazer pactuações, formar partidos políticos. E, pior de tudo, ser aceita dentro do que, absurdamente teórico, estaria 'em seu direito'. Ora, esse povo mercantilizou a fé. Justo o que a Igreja Católica levou mais de mil anos para parar de fazer depois Idade Média, aqueles que foram chamados de Tempos Obscuros, ou aos tempos das indulgências. Que, parece-me, voltam com o vigor de um pastor picareta, transformando a fé em Jesus Cristo simplesmente num vil metal.

Nenhum comentário: