terça-feira, 17 de junho de 2008

Ao Alceu Righetto...

Meus amigos, caros internautas que me acompanham neste blog. Hoje é um dia triste. Faleceu o grande Alceu Righetto. Homem simples, mas de um humor refinado e cheio de energia. Escrevi um artigo em homenagem a ele para A Tribuna Piracicabana, que coloco na íntegra abaixo.

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É difícil escrever sobre alguém que acaba de falecer, alguém amigo, uma das poucas pessoas às quais eu posso chamar de professor. E não é ‘pieguice pós-morte’. Se fosse isso seria o maior desgosto que o Alceu Marozzi Righetto teria de mim. Mas não. Ele soube, morreu sabendo, que sempre o admirei. Por ele ser, acima de todas as coisas, legítimo, verdadeiro, por não ter medo de colocar o que pensa, mesmo que isso lhe valha o prestígio ou mesmo o elogio barato. Desses elogios que se fazem comumente em colunas socais, às quais ele, com razão, tanto detestava.

Alceu Righetto manteve até a semana passada sua coluna em A Tribuna. Era seu espaço democrático e dedicado a quem está cansado de ler a mesma coisa de sempre na imprensa, fruto dos moralismos baratos que criam ‘status’ e condutas ‘politicamente corretas’. Em poucas linhas, em alguns tópicos, ele sempre foi sagaz, voraz, tinha a sensibilidade de um poeta urbano, com a influência do hai cais feito por Paulo Leminski ou Millôr Fernandes. Seus tópicos eram como tapas que se dá na nunca para informar, de forma sutil, que a ‘ignorância lhe sobe a cabeça’ – como diria Millôr – sem que você perceba e tome conta de si mesmo.

E foi nessa turma, além de Millôr, Jaguar, Ziraldo e Cia., que Alceu Righetto se inspirou para realizar o Salão Internacional de Humor. Esse, sim, o seu ‘filho’, independente o que dizem as histórias bizzaras de segundas versões de quinta categoria. Alceu trouxe o ideário daquela época para cá, que permeou o humor e a política brasileira, que influenciou gerações e que, graças a Alceu, se pôde ter mais que ‘um respiro de liberdade’, mas se pôde dar uma boa gargalhada. Daquelas de fazer o jornalismo marrom enfiar seu lirismo como um rabo entre as pernas.

Há poucos meses, num sábado à tarde, desses meios nublados, como o frio que chegou mais cedo esse ano – esse mesmo frio responsável pela pneumonia que levou Alceu antes que o combinado –, o entrevistei em sua casa, na rua XV de Novembro. Um lugar simples, rodeado de livros, de idéias, de histórias, de lições; um espaço que exala o conforto de uma conversa que durou três horas como se passasse num minuto. O Alceu estava disposto e com seu jeito agressivo de sempre. E esse é o Alceu que vai permanecer para mim, o Alceu que chegava na redação e me xingava com espírito aberto, para despertar a minha consciência e contribuir para que saísse da letargia do dia-a-dia cansativo de um jornal diário. Mas que era companheiro em momentos difíceis, como em 2003, quando essa empresa passou por graves problemas financeiros. Apesar das ‘propostas irrecusáveis’, ele não abandonou o barco e nos ajudou na recuperação.

Obrigado, Alceu, por suas palavras, curtas, mas da agressividade que se precisa para enfrentar tubarões. Obrigado, professor, apesar de tudo e de todos, você nunca foi covarde, nunca amarelou, e mesmo contra todas as correntes, nas marés baixas e altas, soube fazer da vida uma piada.

4 comentários:

Anônimo disse...

AHHH MAS ELE TROUXE MUITA COISA PELO TEMPO QUE VIVEU.VAI SER LEMBRADO MUITO. FOI UMA PENA, MAS A VIDA É ASSIM.

Anônimo disse...

Nunca vou me esquecer dele entrando na redação, lendo o jornal e soltando um 'hã' com qualquer bobagem. Figuraça... E o único véio que o Erich gosta nesta vida, viu, gente...

Rodrigo Alves disse...

Apenas para constar:
Foi de lamentar aquela singela homenagem feita ao Alceu no 35º Salão de Humor. Deixou muito a desejar. O Alceu merecia mais...

jampamusico disse...

"Sem medo,sincero,intenso, verdadeiro..."
Devo muito ao Alceu Righetto- Homem singular,de muita inteligência,coragem e muita generosidade.Que outra qualidade poderia fazer permitir a um garoto de 15 anos que se tornasse parceiro em tantas canções que ele defendia como não se vê por aí. Amigo da vida, tratava as crianças de igual pra igual, dando baile em muito psicólogo metido a sábio que tá mais pra bruxa de vassoura e caldeirão."Xi! as cores sumiram"