Não faz muito tempo comentei com um amigo: "O cinema brasileiro ainda precisa fazer o Tropa de Elite da Ditadura Militar". Quis dizer que assim como o filme de José Padilha "culpou" a burguesia, e principalmente os pequenos burgueses, pelo crescimento do tráfico de drogas, também seria necessário mostrar que boa parte da luta contra a Ditadura Militar não tinha, em sua origem, uma batalha democrática, mas a busca por uma Ditadura do Proletariado. O que, noves fora, é a mesma coisa. O curioso é que ontem recebi um artigo do Betão (meu amigo e dono do blog Eco Subversivo, http://betobiologia.blogspot.com/) que contraria essa minha tese. Aliás, ela surgiu num momento etílico -- é preciso, portanto, respeitar algumas bobagens. Mas neste artigo, um historiador diz que não há como "culpar" os esquerdistas pelo método de combate à Ditadura Militar (ou seja, a luta armada) já que do "outro lado" havia um estado armado para impor uma ideologia. Argumento forte, sem dúvida, mas que não me convence. Não sou do tipo que vê a Ditadura Militar como mero devaneio direitista brasileiro. Ela fez parte de uma conjuntura mundial, no contexto da Guerra Fria e, se os EUA a financiaram, a União Soviética também manteve milícias nas fileiras do Partido Comunista. O assunto dá 'pano pra manga'. Fato é que ainda falta o Tropa da Elite da Ditadura Militar. O filme Pra Frente Brasil (1983) é ainda o que permeia o imaginário coletivo sobre esse momento do País. O diagnóstico de que o futebol serviu para encobrir os demandos ditatoriais foi importante na época, mas essa visão precisa ser aprimorada. De qualquer forma, o meu papo de bêbado deu lá algum resultado.
EU ODEIO... o ufanismo do Galvão Bueno. Aliás, e de qualquer ufanista.
"A virtude não é tão fácil como o vício, mas pode ser ajudada" (José Saramago, em História do Cerco de Lisboa)
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2 comentários:
Concordo com você.
E obrigada pela visita no meu blog interessante, inteligente e instrospectivo (risos).
Abraços
Com certeza dá pano pra manga esse assunto Érich. Como vc sabe eu acho que igualar as ações da luta armada com as ações da ditadura é um recurso usado pelos militares e conservadores para justificar a lei da anistia e de certa forma dar legitimidade as atrocidades por eles cometidas. Se a luta armada era financiada pela União Soviética, logo todos aqueles que foram mortos e perseguidos pela ditadura faziam parte dessas milícias comunistas? Claro q não, mas as mortes e perseguições de quem não tinha a ver com isso são justificadas por esse argumento, pois seriam como "efeitos colaterais" na luta contra o perigo vermelho (comunismo), assim como é hoje a "luta contra o terrorismo". Se pegarmos como exemplo Cuba e imaginássemos que tivesse ainda hoje um grupo que usásse a luta armada para derrubar o regime da ilha. Como seriam retratados esses pelas grandes corporações midiáticas internacionais perante a opinião pública? Garanto que iriam ser chamados de heróis da liberdade, que seriam grupos que queriam somente a democracia e a luta armada era o único meio para resistir a ditadura castrista. Todos os países da América do Sul tiveram resistência armada contra as ditaduras e o Brasil não seria diferente. Como era Guerra Fria, aqueles que não concordavam com um regime financiado por um dos lados,eram mais cooptáveis para aceitar ajuda do lado oposto. Vale lembrar que os judeus sabotavam e promoviam atentados contra os britânicos e hoje são tidos como heróis. Será que aqueles q ousaram resistir com armas a ditadura Hitlerista tb seriam igualados aos agentes do estado de repressão da Alemanha? Certamente não e o argumento seria q lá Hitler matou 6 milhões e aqui "apenas uns 400". A única resistência pacífica q eu já ouvi falar até hoje é a que Gandhi praticou contra os britânicos. Fora isso, até os monges tibetanos recentemente agrediram, perseguiram e expulsaram alguns chineses no Tibete. Acho que a abertura de todos os arquivos da ditadura colocaria um ponto final nessa discussão, mas nesse caso pergunto: Quem mais teme a abertura desses arquivos?? Que eu saiba são os militares, então acho que quem tem mais sujeira e crimes nas costas são eles. Se a luta armada queria a ditadura do proletariado, então aí parece q não há saída: ou é a favor dessa ditadura ou então prefere a que estava mesmo, por ela ser "menos pior" que a outra. Esse argumento tb foi usado contra João Goulart, pois diziam q esse implantaria em breve uma ditadura comunista no Brasil, então o golpe de 64 foi justificado. Acho q a luta armada não deveria ser "santificada", mas querer botar em pé de igualdade um estado com milhares de soldados e agentes repressivos com algumas centenas de utopistas é meio q forçar a barra.
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